domingo, 21 de abril de 2013

STAR-RED-LAND:

João Alemão – assim chamado por ter a tez branca, embora os pais fossem negros – achou estranho o primeiro ato do partido Star-red, mudar o centenário nome do país para STAR-RED-LAND. Depois o sistema de cota para as universidades, as vagas a partir de então seriam pela cor da pele, por raça – apesar de só haver uma raça, a humana e ponto - e não mais por mérito. Depois o partido Star-red instituiu o castigo póstumo: Todo o cidadão do país com pele branca deveria, diariamente, comparecer à sede da milícia partidária para sofrer o castigo de cinqüenta chibatadas para expiar as culpas de seus ancestrais por terem instituído a escravidão. Mais tarde o partido proibiu a todos os pais de pele branca matricularem os filhos nas escolas públicas e, simultaneamente, fizeram uma lei fechando todas as escolas particulares do país. Meses depois o partido fez a lei que proibia as pessoas de tez branca de exercerem uma profissão alegando que branco ao exercer uma profissão estaria roubando a vaga de um negro. Depois instituíram a regra da segurança alimentar: um branco só poderia se alimentar após todos os negros se declararem saciados. Por fim os sicários do partido começaram a caçar as pessoas de tez branca e matarem-nas e sumirem com os corpos. Então João Alemão refugiou nos esgotos da metrópole e passou a viver como rato nos meios dos ratos. Até que uma noite quando andava furtivamente pelas ruas revirando as latas de lixo para tentar matar a fome foi feito prisioneiro, julgado por um tribunal militar e condenado à morte pelo crime de ser branco. João Alemão era um dos últimos branco vivo no país e sua morte seria amplamente divulgada por toda a mídia. Amarraram-no em um carro aberto e percorreram uma extensa via – rebatizado com Avenida do Ajuste Final - para ser crucificado no final dela. O carro desloca-se vagarosamente, enquanto a multidão vociferava palavras de ódio. João Alemão enquanto dirigia para a morte procurava entender o porquê de tudo aquilo, olhava para um lado e outro da avenida e via centenas de cruzes com restos mortais dos homens de tez branca, algumas já só com os esqueletos. Todas aquelas cruzes eram, para o partido Star-red, monumentos que celebravam sua grandeza. Mas na avenida não havia só cruzes, havia também milhares de estrelas vermelhas, símbolo do partido, que reluziam ofuscando a visão de João Alemão. Súbito, tudo fica claro na mente do condenado. Aquelas estrelas, símbolo do partido, não eram mais estrelas, ou melhor, eram estrelas, porém re-estilizadas. Eram estrelas suásticas. No país, teve certeza, havia sido implantado um nazismo tupiniquim, onde a raça superior era a negra e não a ariana.

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