Caminhava apressado pelas calçadas da Av. Joaquim leite, aqui em Barra Mansa, quando presenciei, não digo um simples milagre, mas um acontecimento muito mais significativo. Presenciei o nascer de um santo, não o vir à luz, mas o nascer no sentido de presenciar a transformação de um homem comum, com seus problemas, dificuldades e frustrações em um ser iluminado capaz de captar as injustiças e trapaças da vida e indignar-se contra elas. O homem, não sei se nesse exato momento já era santo, atravessou a avenida e, súbito, ajoelhou-se no meio dela; acho que a transformação de homem comum em santo, deu-se nesse exato momento de ajoelhar-se e, ignorando as buzinas nervosas dos carros e as indiferenças dos transeuntes, fez uma oração que gravei e agora a transcrevo aqui:
Senhor meu Deus, criador do universo! Protetor dos que sofrem, dos que têm fome (fisiológica e de justiça) ... Venho pedir-lhe, não riquezas e tão pouco honrarias, peço-lhe, Senhor meu, que finja não existir. Que num decreto celestial determine que desta data em diante Vossa Santidade não mais existe (sei que mesmo fingindo é muito triste e causa um vazio infinito em nossas humanas almas) mas é, Senhor meu, absolutamente necessário o seu não existir para desmacular seu santo nome, que homens sem escrúpulos sujam, denigrem e comercializam)...
Senhor, no exato momento que Vossa Santidade decretar sua não existência muitos impérios comerciais-religiosos deixaram de existir e os gordos aproveitadores, muitos bons vendedores de curas, milagres e prosperidades verão, repentinamente, seus negócios ruírem.
Os covardes que matam em seu nome (indigne-se, Senhor meu, até matam em seu nome e não contentes em matar, mutilam...) deixarão de sacrificar vidas porque da data de seu decreto em diante, o de não mais existir, terão que assumir seus crimes e eles são muitos covardes para arcarem com as conseqüências de seus atos (é muito mais fácil matar em seu nome senhor meu Deus).
Mas a oração foi interrompida pelo trombar de uma motocicleta contra o santo. O Santo voou e caiu vários metros adiante, fulminado. Disse motocicleta, não, não era moto, era uma das bestas do apocalipse que veio calar a boca de quem bradava contra os falsos profetas. Logo vieram os bombeiros retirar o corpo e o fizeram como se fosse o corpo de homem comum, sem cuidados e reverências... E a frase dita por um dos bombeiros , deu-me a prova cabal que o morto era, definitivamente, um santo; santos sempre são desprezados por seus contemporâneos: “Neste mundo tem doido pra tudo!”
PS: Para ser sincero não sei o homem era um santo, pois tinha um ar evangélico e evangélicos na gostam de santos e, chamando-o santo estaria a denegrir sua fé, então, se evangélico, mudo de nascer de um santo, para o nascer de um profeta.