sábado, 28 de agosto de 2010

O NASCIMENTO DE UM SANTO:

Caminhava apressado pelas calçadas da Av. Joaquim leite, aqui em Barra Mansa, quando presenciei, não digo um simples milagre, mas um acontecimento muito mais significativo. Presenciei o nascer de um santo, não o vir à luz, mas o nascer no sentido de presenciar a transformação de um homem comum, com seus problemas, dificuldades e frustrações em um ser iluminado capaz de captar as injustiças e trapaças da vida e indignar-se contra elas. O homem, não sei se nesse exato momento já era santo, atravessou a avenida e, súbito, ajoelhou-se no meio dela; acho que a transformação de homem comum em santo, deu-se nesse exato momento de ajoelhar-se e, ignorando as buzinas nervosas dos carros e as indiferenças dos transeuntes,  fez uma oração que gravei e agora a transcrevo aqui:



Senhor meu Deus, criador do universo! Protetor dos que sofrem, dos que têm fome (fisiológica e de justiça) ... Venho pedir-lhe, não riquezas e tão pouco honrarias, peço-lhe, Senhor meu, que finja não existir. Que num decreto celestial determine que desta data em diante Vossa Santidade não mais existe (sei que mesmo fingindo é muito triste e causa um vazio infinito em nossas humanas almas) mas é, Senhor meu, absolutamente necessário o seu não existir para desmacular seu santo nome, que homens sem escrúpulos sujam, denigrem e comercializam)...

Senhor, no exato momento que Vossa Santidade decretar sua não existência muitos impérios comerciais-religiosos deixaram de existir e os gordos aproveitadores, muitos bons vendedores de curas, milagres e prosperidades verão, repentinamente, seus negócios ruírem.

Os covardes que matam em seu nome (indigne-se, Senhor meu, até matam em seu nome e não contentes em matar, mutilam...) deixarão de sacrificar vidas porque da data de seu decreto em diante, o de não mais existir, terão que assumir seus crimes e eles são muitos covardes para arcarem com as conseqüências de seus atos (é muito mais fácil matar em seu nome senhor meu Deus).

Mas a oração foi interrompida pelo trombar de uma motocicleta contra o santo. O Santo voou e caiu vários metros adiante, fulminado. Disse motocicleta, não, não era moto, era uma das bestas do apocalipse que veio calar a boca de quem bradava contra os falsos profetas. Logo vieram os bombeiros retirar o corpo e o fizeram como se fosse o corpo de homem comum, sem cuidados e reverências... E a frase dita por um dos bombeiros , deu-me a prova cabal que o morto era, definitivamente, um santo; santos sempre são desprezados por seus contemporâneos: “Neste mundo tem doido pra tudo!”

PS: Para ser sincero não sei o homem era um santo, pois tinha um ar evangélico e evangélicos na gostam de santos e, chamando-o santo estaria a denegrir sua fé, então, se evangélico, mudo de nascer de um santo, para o nascer de um profeta.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O DIA QUE A DEMOCRACIA TIROU A MÁSCARA:

Dez de março de 2015, a democracia brasileira plenamente consolidada joga sua cartada final: a retirada do último direito do trabalhador brasileiro. Os presidentes das duas casas, câmara e congresso, discursaram enfatizando o momento histórico em que todas as amarras que engessavam a economia foram, finalmente, erradicadas.


O congresso e a câmara em sessão conjunta, como a presença do Exc.° Sr presidente da República votaram o fim da CLT, a volta da prisão por dívida, a volta do direito do patrão manter o empregado prisioneiro até a quitação de suas dívidas para com a empresa e a volta das chibatadas por falta grave no trabalho.

Em seu discurso o líder do DEM, requereu para o partido os maiores louros, pois para não perder a luta e chegar à vitória final o partido havia, para lubridiar o povo, mudado de nome três vezes: ARENA, PFL e agora DEM. O líder do PSDB, parodiando um historiador americano, enfatizou que aquele momento era o fim da história. Que a luta tão arduamente travada diuturnamente, contra as forças comunistas e retrógradas, fora finalmente vencida. Que o neoliberalismo triunfará e que no horizonte descortinava mil anos de prosperidade e máquinas produzindo a todo vapor. O PTB que votou pelo fim dos direitos dos trabalhadores, vangloriou-se da emenda cota-sal criada pelo partido para o trabalhador passar no corpo após as chibatadas. O líder do PMDB discursou rebatendo um panfleto subversivo e apócrifo que havia circulado antes da votação que na essência dizia que a escravidão voltara e que a democracia era a corrente que cerceara a liberdade de um povo. Disse o líder: Como podem afirmar que o povo perdeu, se a perda dos direitos trabalhistas vai permitir o progresso e a acumulação do capital no País. Qual patriota não estaria orgulhoso em renunciar aos seus direitos para proporcionar ao País o grande salto para o futuro... O líder do PT discursou rebatendo a todos, que aquele grande feito era obra de seu partido que lutará incansavelmente para conseguir a grande vitória final, que alguns subversivos diziam ser perda de direito, mas que na verdade era a vitória final da classe trabalhadora, afinal não importava que o pleno emprego fosse trabalho escravo. Neste momento, finalizou seu discurso, dizendo: acabou o desemprego, todos trabalharão até morrer!

No final da sessão os presidentes das duas casas solicitaram que todos assinassem embaixo da cópia fiel da lei para a enviar à biblioteca do congresso e ficar para a história. Severino Silva, contínuo no congresso, foi o encarregado de colher as assinaturas. No final quando foi olhar para ver se não estava faltando nenhuma assinatura dos facínoras, ficou pasmo. Todos os nomes de todos os deputados e senadores eram iguais: LUCIUS ANTONIUS RUFUS APPIUS e todas as assinaturas idem: L.A.R.APIUS.



Nota: Lucius Antonius Rufus Appius foi um corrupto coletor de impostos romano, cuja assinatura originou palavra larápio (L.A.R.APIOS)



segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O POLÍTICO FLEXÍVEL:

Os políticos eleitos pelas verbas do caixa dois das elites, nos tempos de fartura onde os patrões embolsam gordos lucros, nunca propõem um direito, sequer um bônus aos trabalhadores. Mas bastam uma ligeira queda nos lucros, uma dificuldade momentânea para virem com seus anteprojetos obscenos, querendo cassar os parcos direitos trabalhistas que ainda restam aos trabalhadores. Como se os trabalhadores brasileiros não fossem uns dos mais desprotegidos do mundo. O Brasil é um dos poucos países do mundo onde é permitida a demissão imotivada, onde as aposentadorias viraram ficção e os que as conseguirem estarão tão debilitados pelas mudanças sucessivas das regras, que receberão, não aposentadorias, mas caixões-de-defunto para entrarem nele e deixarem de dar prejuízo ao sistema. Morro de vontade de chamar a esses políticos mercadores, que agora querem flexibilizar a CLT, de oportunistas, de canalhas, de vendilhões da classe trabalhadora, mas temo ser injusto, pois dentre eles há um que conheço bem por ser conterrâneo meu, que atende pela singela alcunha de Chico-Vinte que vota pela flexibilização por convicção, pois já antes de entrar na política tinha idéias avançadas. Há tempos, antes da flexibilização estar na moda, ele já tinha flexibilizado a mulher, que fez brilhante carreira na indústria do baixo-meretrício, flexibilizou a mãe para fazer papel de mulher-conga no circo e, aos filhos, flexibilizou-os; terceirizando-os como braços armados para quadrilhas de assalto a bancos.



TIREM AS MÃOS CHEIAS DE DEDOS DOS NOSSOS PARCOS DIREITOS TRABALHISTAS

O que move o mundo é o dinheiro, mas o medo é seu freio! Ninguém dá nada de graça e o capitalismo muito menos. Os avanços trabalhistas no mundo capitalista deu-se por medo do comunismo. Agora que o comunismo acabou o capital quer bater nossas carteiras quase vazias de direitos. Todos os dias um direito nos é roubado. Estes senhores sorridentes que nos abraçam, nos dão tapinhas nas costas e santinhos, votam sem dó contra nossos direitos no congresso. Então, votem em radicais de esquerda para que gritem, esperneiem e morda quem nos quer roubar em Brasilia. 

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

OVERDOSE DE IMPOSTOS

João da Silva Brasil pegou a capa, no Brasil redemocratizado chove todos os dias, a bem dizer não era chuva, eram lágrimas de um povo depenado pela carga excessiva de impostos. Quando pegou a bolsa sobre o sofá, uma dor aguda e intensa percorreu sua coluna dorsal tal era o peso dela. Irritado, João da Silva murmurou: parece chumbo, qualquer dia esta bolsa de impostos vai me matar.

Maria Ermeciana cozinhava um punhado de feijão e um bocado de arroz em um fumascento fogão à lenha, nunca sobrava dinheiro para o gás, quanto irritada falou consigo: Como se necessitasse de fumaça para me fazer chorar, basta-me este bocado de arroz e feijão amargo de tantos impostos...

João da Silva percorreu várias repartições e bancos pagando montanhas de impostos e no final, feliz, viu que havia sobrado algumas pratinhas, suficiente para tomar uma cerveja. Entrou num pé-sujo e pediu: solta uma céu –de- foca, estupidamente! Quando apareceu um senhor elegantemente vestido, óculos escuros, bigode à Rodolfo Valentino e um sorriso procaz , e sobremaneira grosso, e o interpelou: Como ousa tomar bebida alcoólica com o seu imposto de renda devido?! E célere, tirou a garrafa e o copo das mãos de João da Silva, e sôfrego bebeu com gosta aquela cerveja céu-de-foca. João, apopléctico, teve um troço e foi rebocado até ao hospital.

Maria Ermeciana, quando ia devorar, juntamente com seus cinco filhos, aquele bocado de arroz com feijão amargo de impostos, batem à porta. O filho maiorzinho foi ver e lá da porta mesmo gritou: Mãe, é o moço do IPTU atrasado! Tá dizendo que se não pagar hoje vai levar as panelas como sinal de pagamento.

Maria deu um troço, arroxeou e estatelou ao chão!

João e Maria, ironicamente, foram para o mesmo hospital, não sei se por coincidência ou por havê-los tão pouco.

O médico que os atenderam, falou irritado: Hoje já é o vigésimo caso. E gritou: enfermeira, traga dois frascos de isenção-fiscal. E virando-se para o estagiário ao seu lado, disse-lhe: É overdose de impostos!

UMA NOVA TEORIA:

Nós, trabalhadores brasileiros, precisamos com urgência estruturar um novo partido de esquerda com uma representação razoável no congresso para defender nossos interesses. Estamos orfãos de representantes! O PT que passamos décadas a construí-lo com militância gratuita ao chegar ao poder traiu os trabalhadores cortando seus parcos direitos trabalhistas e previdenciários. A escravidão bate em nossas portas. O escravo ao completar sessenta anos era liberto, hoje querem nos conceder aposentadorias aos sessenta e cinco num primeiro estágio, num segundo aos setenta. Queria convidá-los a votarem em partidos de esquerda, que tal o PSTU... Tenho certeza que este partido no legislativo nos defenderia, pois não terá cargos no executivo.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

RUMO À CUBA DOS IRMÃOS CASTROS:

Peões e aposentados do Brasil apertem o cinto. O Sucatão da Miséria vai levantar vôo. Na verdade já levantou há muito, durante os oito anos de governo tucano salários, aposentadorias e reajuste da tabela do imposto de renda foram congelados. O PT que quando na oposição era contra essa política de arrocho, quando no poder, manteve e a ampliou. Os aposentados, que no passado, ajudaram a construir esta Nação estão expostos a esta política mesquinha que os levam à fome e a renuncia aos tratamentos médicos por não terem recursos para comprarem os remédios, que estão pela hora da morte. Os trabalhadores da ativa, que com os seus suores continuam a construção do País, sofrem com esta mesma política de arrocho que os mantêm , a si e seus filhos, mal alimentados, morando em casebres e sem perspectivas de um futuro melhor.


O mal do Brasil são seus governantes, ou melhor, desgovernantes, que têm aversão ao trabalho e odeiam quem o faz. E isso gera sérias distorções, por exemplo: Paga-se R$510,00 para um trabalhador prover sua família, arcar com alimentação, aluguel, vestimentas, água , luz, IPTU, etc e, gastam-se, estes governantes eleitos por nós, para manter um presidiário, aproximadamente, R$2000,00. O Brasil é o único país do mundo onde um presidiário vale mais que quatro trabalhadores!

Em poucos anos, a política do PT, nos transformará de brasileiros em cubanos. Todos seremos nivelados por baixo. Todos ganharemos salário-mínimo. Improvisaremos balsas, compraremos câmara-de-ar de pneu de caminhão, logicamente no mercado negro, para fazê-las de bóias e nos atiraremos ao mar alto para fugirmos da tirania. Então os patrulheiros ideológicos, agora feitos pilotos- de-caças, darão rasantes sobre nossas precárias embarcações e as metralharão. Pobre de nós, trabalhadores e aposentados... A nós, na democracia brasileira, só nos restou o direito ao choro.



Barra Mansa 19/01/2010

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A DEMOCRACIA DOS SENHORES:

Todos os dias somos bombardeados pelos meios de comunicação afirmando que, inquestionavelmente, somos uma democracia plena. Que todos as instituições democráticas estão funcionando e que os poderes da República continuam independentes . Mas venho, muito humildemente, contestar estas premissas. Elas são falsas! Melhor, as instituições e poderes da República funcionam sim, mas para as elites. Senão, vejamos: O ladrão de galinhas é pego e sofre pena rigorosa; mas o banqueiro frauda e pratica usura impunemente. A mãe rouba um tablete de manteiga, para aplacar a fome do filho, é pega e sofre pesada e injustíssima pena; mas o político superfatura obras, rouba o dinheiro da merenda escolar escapa ileso, graças ao fórum especial e, ainda, é chamado de Excelência. Em nossa República vige o livre mercado: o preço do arroz, do feijão, do leite, do macarrão, estão liberados e cada comerciante vende pelo preço que quiser; mas o salário do trabalhador é tabelado, e quando não, é negociado entre o patrão forte e o peão mirrado.

Os lucros dos empresários e banqueiros vêm aumentando exponencialmente; mas a renda do trabalhador vem minguando ano a ano, a ponto do salário-mínimo nacional atual valer quatro vezes menos do que valia na época de sua criação.

Quando o rico fica doente vai para um hospital de primeira, com medicina de ponta e aparelhos modernos para um diagnóstico preciso; mas o peão vai para a fila do SUS que nunca tem vaga e se o caso for desesperador, colocam-no em cima de pia ou deitado no corredor e para aplacar sua dor lacerante dão-lhe uma aspirina e ainda dizem que estão fazendo favor.

O rico quando vai aposentar tem programa para se adaptar: Suas horas de trabalhos vão gradualmente diminuindo, dão cruzeiros em iates de luxo e viagem à Europa; mas ao pobre não dão nada e ainda tiram tudo: é o tal fator previdenciário que capa a aposentadoria, é o aumento do tempo de contribuição que impede este direito sendo, que atualmente, só os mortos estão se aposentando.

Quero, nesta crônica, desconvidar os ricos que já têm sua próspera democracia; mas convidar aos aposentados, trabalhadores e outros pobres em geral para fundar uma neodemocracia onde a opulência do rico não seja a miséria do pobre. Onde o lazer do rico não seja o negar do justo direito do trabalhador se aposentar.

domingo, 15 de agosto de 2010

O DIA EM QUE O RIO PARAIBA MORREU

“Milênios mais tarde, quando um renomado arqueólogo da nova raça dominante na Terra que evoluiu dos urubus descobriu que aquelas rochas brancas e fétidas no leito petrificado do rio Paraíba, na realidade não eram pedras mas lixos e merdas petrificados, concluiu que a civilização humana, se é que assim poderia chamar uma espécie que destruiu a si mesma ao provocar o aquecimento global, evoluira, não dos primatas como acreditaram, mas dos suínos como a arqueologia, agora, comprovava.”


Alberto da Silva Lancaster, rico industrial, acordou pela manhã, abriu a torneira de ouro de sua real suíte e não caiu uma gota de água. Murmurou, paga-se caro por tão precário serviço... Tem que privatizar!

José da Silva, desempregado, com seu barraco à margem do rio Paraíba, quando atirou a sacola de lixo, como fazia toda manhã, no leito do rio, ela sofreu um efeito bumerangue e voltou batendo violentamente na cara dele e assombrado ele gritou: as leis da física endoidaram, a lei da gravidade foi revogada!

Tião Pescador e Pedro Canoeiro remavam lentamente rio Paraíba acima, buscando chegar a um remanso onde pudessem ancorar e jogar suas linhadas e iniciar a pesca, como faziam toda madrugada, quando, súbito, a canoa sofreu um forte baque e encalhou. Pedro Canoeiro tentou desvencilhar-se remando, mas o remo não encontrou a resistência das águas. Tião Pescador disse a Pedro Remador que o mundo estava muito estranho, que o fim do mundo estava próximo, que o ar não era mais ar, mas uma mistura de gases sulfúricos, que as águas do rio de tão poluídas estavam aleijando e cegando os peixes e tornando-os tão raros que a qualquer dia desses não se diria: “vou pescar, mas vou garimpar!”. Peixes tornar-se-iam tão raros como os diamantes... Então, Pedro Canoeiro, mergulhado na mais negra noite desde o início dos tempos, teve uma clarividência e, iluminado pela certeza, naquela madrugada fatídica, grita a pleno pulmões: “Nós estamos encalhados é em sobre um iceberg de lixos! O Paraíba secou!”.

Foi um acontecimento trágico, mas não foi assim que o perceberam as populações ao longo do rio. De manhã todos acorreram para ver a novidade, foi um acontecimento festivo em que todos não se preocuparam em analisar que a morte do rio fora boa ou ruim. Afinal, o rio tinha estado ali através das eras e as dádivas trazidas a eles pelo rio não eram entendidas e por isso ignoradas. Até entendidas como atrapalhação (enchentes, dificuldades de atravessar de uma margem para outra, etc).

Mas se a população fora pega de surpresa, o mesmo não aconteceu com os poderes constituídos. Todos os prefeitos das cidades ao longo do rio já sabiam do fim iminente e já estavam com a festa preparada. Contrataram um contingente enorme de carpideiras e fizeram uma procissão pungente que percorreu o rio extinto, da nascente à foz. Foi a procissão de maior percurso e duração e teve seu registro no livro dos recordes. E, no palanque armado, políticos eufóricos anunciavam uma era de progresso com a nova rodovia que seria construída sobre o leito seco do Paraíba, a Trasparaiba, escoaria o progresso e ecoaria ao mundo o espírito empreendedor daquele povo que assassinou um rio para construir uma rodovia.

Tudo ia bem na construção da nova rodovia, a não ser pelo número elevado de mortes de operários mortos pelos gases mortais que emanavam do leito seco do rio. Mas era só aparente a sensação de progresso trazido pela rodovia em construção. Os políticos entretidos com sua nova fonte de superfaturamento não viam o que acontecia ao redor. Os laminadores das siderúrgicas emperraram com a falta de água, máquinas sem água para seus resfriadores explodiam. E as fábricas uma a uma cerravam as portas. As populações sedentas e imundas pediram a um pajé indígena que as ensinassem a dança da chuva e dançavam na esperança que chovesse para aplacar suas sedes e lavar aqueles corpos suados e fétidos. Crianças famintas de sede perambulavam pelas cidades pedindo esmolas de água. Então as aves que habitavam as margens do rio e alimentavam de seus peixes, migraram. Houve a diáspora da população sobrevivente da grande sede. Adveio, por ordem federal, um tribunal para julgar, não crimes de guerra, mas o crime ecológico que levou ao holocausto a população do Vale do Paraíba. Todos os prefeitos e governadores foram sentenciados à prisão perpétua. Mas já era tarde, a morte do Rio Paraíba foi apenas o primeiro ato, de uma tragédia mundial já há muito anunciada. E o fim se fez...